Os custos ambientais da moda

custos ambientais da moda

É difícil imaginarmos um mundo sem têxteis. Um mundo sem roupa. Um mundo sem moda. As roupas dão-nos conforto e proteção e para muitos representam a sua individualidade e é a forma como expressam a sua personalidade. A indústria da moda é um setor muito significativo na economia global e cria milhões de empregos (diretos e indiretos) em todo o mundo.

À primeira vista, tudo parece estar bem. Mas quando olhamos melhor, quando fazemos as perguntas certas, quando vamos ao fundo da questão, percebemos que isto é apenas uma ilusão perfeitamente orquestrada pela indústria e que não poderia estar mais longe da verdade.

A indústria opera de uma forma completamente linear, utilizando o obsoleto modelo do ‘faz-usa-descarta’, o que faz com que existam perdas a níveis de ecossistemas e de regeneração de recursos inestimáveis. As emissões de gases com efeitos de estufa que derivam dos processos de produção de têxteis atingem valores anuais de 1.2 mil milhões de toneladas, superiores a todas as emissões de voos comerciais e de transportes marítimos juntos. Dito de outra forma: em média, para produzir 1kg de tecido são gerados 23kg de gases com efeitos de estufa. Um rácio de 1 para 23!

São necessárias quantidades enormes de energia, água e outros recursos para fazer a nossa roupa. Como os tempos médios de utilização das roupas diminuíram para metade nos últimos 15 anos, desperdiçamos também a um ritmo nunca antes visto. Estima-se que mais de metade da produção da chamada “moda rápida” (a dita “fast fashion”) seja descartada em menos de 1 ano.

A produção global de roupa duplicou entre os anos de 2000 e 2014 e, uma vez que os processos de produção das empresas têxteis se tornaram mais eficientes, os ciclos de produção aceleraram e empresas conseguiram fazer melhores negócios. Em 2018, é esperado que a indústria têxtil cresça entre 3,5% e 4,5%, atingindo os 2.5 biliões de dólares. Desta forma, a indústria triplicará o crescimento experimentado em 2016, sobretudo impulsionado pela evolução de mercados emergentes como a Ásia, a África e a América Latina. Continuamos tão focados nos números, no crescimento, no lucro, que não vemos os reais problemas da indústria.

A indústria têxtil depende sobretudo de recursos não renováveis – 98 milhões de toneladas, no total, por ano –, incluindo petróleo para produzir fibras sintéticas, fertilizantes para cultivar algodão e químicos para produzir, tingir e finalizar fibras e têxteis. A produção têxtil (incluindo a produção de algodão) também usa cerca de 93 mil milhões de metros cúbicos de água anualmente, contribuindo para problemas em regiões onde a água escasseia.

A utilização de substâncias potencialmente perigosas na produção têxtil tem um impacto sério na saúde dos agricultores e dos trabalhadores das fábricas, assim como no ambiente. É frequente os resíduos industriais e tintas usados pelo setor contaminarem os cursos de água. Estima-se ainda que, durante a lavagem, as nossas roupas libertem meio milhão de toneladas de microfibras de plástico para os oceanos, todos os anos. Estas fibras são ingeridas por peixes e outros animais marinhos e entram na cadeia alimentar, o que significa que podemos acabar por comer as nossas próprias roupas.

A moda, tal como a conhecemos neste momento, é péssima para o planeta. E os impactos negativos que começamos a sentir agora são só a ponta do iceberg: prevê-se que até 2050 continuem a aumentar drasticamente.

Mas nem tudo é mau. Já se começam a ver pequenas mudanças na indústria e pessoas com muita vontade de mudar este modelo de negócio. Mas não é fácil lutar contra os gigantes, contra quem tem o poder. Mas está nas nossas mãos. Depende de todos nós.

Fontes:
A New Textiles Economy Report
The Environmental Costs of Creating Clothes
Tendências da Indústria da Moda
The Uniplanet
Image courtesy of Apparel Resources

 

logo - âncora verde

One thought on “Os custos ambientais da moda

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *